O Centro Cultural PGE-RJ promoveu, nesta quinta-feira (06/06), mais uma palestra da série “Quintas do Carmo”. O convidado foi o jornalista Marcelo Barreto, editor-chefe e apresentador do programa Redação SporTV, com mais de 30 anos de experiência no jornalismo esportivo. O evento marcou a reabertura da série “Quintas do Carmo” esse ano, promovendo uma reflexão sobre a saúde mental no esporte, agravada com o advento da pandemia.

A palestra contou com a participação dos Procuradores do Estado Carlos Edison do Rêgo Monteiro Filho, Chefe do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) e Rodrigo de Almeida Távora, Procurador-Assistente do Cejur, a Assessora de Projetos de Educação Corporativa (Apec) Tatiana Benjoino e o servidor da PGE-RJ e atleta de Beach Soccer, futebol de praia, Carlos Daniel, que compartilhou sua vivência na Conmebol Beach Soccer Sub-20.

A palestra de Marcelo Barreto abordou vários aspectos da história do esporte, mostrando como a sociedade e os próprios atletas têm dificuldades para lidar com a derrota, e a pressão exercida sobre os esportistas para alcançar o único resultado aceitável pela sociedade, a vitória.

Ele destacou que a questão da saúde mental dos atletas já vinha se manifestando claramente há alguns anos, mas foi na Olimpíada de Tóquio que o fenômeno se apresentou para a sociedade de forma explícita. A desistência da ginasta americana Simone Biles, a grande promessa da delegação americana para o evento, causou grande impacto no mundo do esporte e na sociedade, e marcou definitivamente a percepção de que os atletas não são super-heróis, mas seres sujeitos a dificuldades psicológicas como qualquer ser humano.

O jornalista lembrou que o episódio de Tóquio escancarou a importância de tratar a saúde mental no esporte. Segundo ele, o tema chegou com muito atraso, pois por muitas vezes os atletas esperavam se aposentar para dizer que sofriam com ansiedade, depressão, ou outros distúrbios mentais.

Destacou ainda sua dissertação de mestrado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que considerou a derrota como matéria-prima do esporte, pois em competições temos mais perdedores do que vencedores. Recordou uma pesquisa que mostra que de 100 crianças da categoria de base no futebol, apenas uma torna-se profissional, ganhando em média 2 a 3 salários mínimos, e a porcentagem para jogadores que chegam a salários como do Vinicius Jr. é ainda menor.

Em uma olimpíada de 100 atletas que vão competir, apenas um volta com a medalha, contribuindo para criar um ambiente em que a derrota é inaceitável, e por muitas vezes desumanizando o atleta reduzindo-o a apenas números. Essa ideia advém do pensamento da Grécia antiga, em que o esporte era a forma de mostrar as qualidades de um cidadão grego. Portanto, se absorvemos esses ideais, estamos desqualificando um atleta que treinou sua vida inteira para uma competição apenas por não estar em um pódio.

Evidenciou ainda que valores mudam na sociedade e no esporte a passos lentos, como a conquista dos espaços por mulheres e pessoas de baixa renda. Porém, ainda parece que estamos sempre atrasados no “espírito do tempo”. Atualmente, com as redes sociais, por exemplo, não basta vencer. Tem que mostrar que venceu. Parece que a cada nova mudança, surge outro aspecto que precisamos mudar na realidade.

Tratar na educação essas questões pode ser um ponto de partida, como destaca a servidora Tatiana Benjoino, para ajudar os jovens em formação a entender que o erro faz parte da vida e o esporte exprime isso, pois podemos ganhar ou perder. E também a importância de aceitar nossas limitações e respeitá-las.

Na PGE-RJ as ações do Laboratório da Qualidade de Vida começaram em 2021 e hoje o Núcleo de Saúde Mental e Ocupacional da PGE já atende vários servidores da casa com consultas psicológicas.